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domingo, janeiro 19

Sexo na Velhice


“Neste momento das nossas vidas, Willie e eu estamos num desses umbrais, o da maturidade, quando quase tudo se deteriora: o corpo, a capacidade mental, a energia e a sexualidade.

Que diabo nos aconteceu? (…) Certa manhã nos vimos despidos no espelho grande do banheiro e ambos nos sobressaltamos. Quem eram aqueles velhinhos intrusos em nosso banheiro?

Nesta cultura, que supervaloriza a juventude e a beleza, são necessários muito amor e alguns truques de ilusionista para manter vivo o desejo pela pessoa que antes nos excitava e agora está achacosa e gasta.

Em minha idade respeitável, na qual me dão desconto no cinema e no ônibus, tenho o mesmo interesse de sempre pelo erotismo. Minha mãe, que completou 90, diz que isso nunca acaba, mas é melhor não espalhar, porque o resultado é chocante; supõe-se que os velhos são assexuados, como as amebas.

Por dentro Willie [William Gordon, com quem está casada há 26 anos] não mudou, continua sendo o mesmo homem forte e bom por quem me apaixonei.

Por isso estou empenhada em manter acesa a paixão, embora já não seja o fogo de uma tocha, mas a chama discreta de um fósforo. Outros casais da nossa idade exaltam os méritos da ternura e do companheirismo, que substituem o alvoroço da paixão, mas já avisei a Willie que não pretendo substituir a sensualidade por aquilo que já tenho com a minha cachorrinha. Ainda não…”

É dessa forma honesta e divertida que a escritora Isabel Allende, 70, nos introduz ao seu mais recente livro: “Amor” (Editora Bertrand Brasil, 240 págs, R$ 29), que reúne seus principais contos de amor.

Ao falar abertamente sobre sexo e sexualidade na velhice, Isabel presta um grande serviço não só à população de idosos, mas a todos nós que um dia chegaremos lá.

O tema é ainda um tabu, motivo de vergonha e constrangimento para muitos idosos. Mas não precisaria ser assim, dizem os especialistas.

O que se prega hoje é que o sexo na terceira idade pode ser sim prazeroso, mas depende de como encaramos o envelhecimento e de como vamos driblar as limitações naturais desse processo.

Existem, é claro, mudanças fisiológicas reais. O homem pode demorar mais para se excitar, ter ereção e orgasmo. A mulher sofre com a diminuição da elasticidade, o ressecamento vaginal e sente dor durante a penetração.

Alguns medicamentos também podem dificultar a ereção e o desejo, como os anti-hipertensivos ou antidepressivos. Um ajuste na dosagem ou a troca de medicação pode melhorar isso.

Lubrificantes à base de água diminuem a dor da penetração no caso das mulheres. Para os homens, as drogas para disfunção erétil são de grande ajuda –e de preocupação também.

Há um aumento no índice de doenças sexualmente transmissíveis em idosos, incluindo o HIV. Os mais velhos raramente usam preservativos, o que representa um grande risco.

Uma vida sexual ativa também depende de conversa, de trocas. Saber o que é mais prazeroso para o parceiro e fazer as adaptações necessárias também é muito importante nessa fase da vida.

A questão prioritária, porém, é derrubar estereótipos e preconceitos. A sociedade ainda vê a sexualidade muito atrelada à beleza e juventude. Isso coloca uma barreira psicológica, principalmente para as mulheres.

Daí a importância do livro da septuagenária Isabel Allende. Não é negar as dificuldades do envelhecer. Mas, sim, encontrar formas de dar mais qualidade e alegria aos dias que nos restam.

Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às terças, no site.

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