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quinta-feira, fevereiro 24

A Lucidez da Velhice II



OP – Seguir uma religião traz felicidade?

Boff – Traz felicidade e pode trazer desgraça. A natureza da religião é trazer reconciliação, apoiar o amor, fazer com que as pessoas se abram à totalidade, a Deus. Quando a religião adoece – e a doença da religião é a arrogância de dizer “somos a única igreja verdadeira” -, as pessoas se tornam inimigas. Grande parte das religiões, inclusive, a Igreja Católica, tem essa doença. E temos que libertar a religião. A religião é um fio condutor que tudo amarra e que transforma esse cosmo em uma grande unidade que chamamos Deus – ou mil nomes que damos, Tao, Shiva, não importa. A espiritualidade tem a ver com isso, e a religião devia manter acesa essa chama interior. O grande projeto das religiões, especialmente, de Jesus era tratar humanamente os seres humanos. E eu os trato humanamente quando os amo, os respeito, os acolho. O efeito disso é o bem-estar, a alegria de viver junto com os outros.

OP – No mundo atual, com os prazeres mais explícitos (ou com mais prazeres permitidos) e com os conflitos mais complexos, onde está a felicidade? Se tornou mais difícil, ou mais fácil encontrá-la?

Boff – Essa situação coloca um desafio a cada pessoa. A felicidade se encontra na justa medida entre a luz e a sombra, entre o instinto de rejeição e o de congregação. O ser humano tem que exercer a sua liberdade no sentido de saber os limites da realidade, aquilo que prejudica, ou que integra. Isso é uma conquista difícil. É o preço que cada pessoa tem que pagar para poder ser feliz. E a sociedade não ajuda a buscar essa justa medida porque exaspera o desejo, solicita o consumo material. É o discurso mostrando a criminalidade, exaltando pelas mil formas a violência dos seres humanos. É uma cultura doente. É difícil encontrarmos o equilíbrio e realizarmos o projeto de felicidade.

OP – E se chega, em algum momento da vida à felicidade? Essa busca tem um fim?

Boff – Nunca tem fim porque o ser humano é um projeto infinito. É a famosa experiência de Santo Agostinho, o grande procurador: “Eu te procurava dentro, e tu estavas fora. Te procurava fora, tu estavas dentro. Finalmente, te encontrei, ó beleza tão antiga e tão nova! E aí descansou meu coração”. Essa experiência do ser humano é de idas e vindas, fracassos e sucessos, usar a resiliência. Resiliência significa poder dar a volta por cima, aprender do fracasso, não deixar que as coisas sombrias tenham a última palavra, amadurecer com elas. A felicidade supõe um amadurecimento das experiências humanas. Vem de uma construção difícil, lenta. E junto vem a serenidade, a capacidade de uma relação que aceita as diferenças. Convivo com jovialidade e não com amargura. A felicidade é fruto desse processo. A idade conta muito.

Fonte: O Povo / Fortaleza / 2010 ANA MARY C. CAVALCANTE / REPORTER. Colaborou Luiz Henrique Campos.

http://opovo.uol.com.br/app/o-povo/paginas-azuis/2010/08/02/internapaginasazuis,2026243/a-lucidez-da-velhice.shtml

bjs,soninha


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