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quarta-feira, setembro 28

Idosos de asilo em Palhoça recebem cartas de crianças por meio de palhaços "doutores"


Quantas lembranças, emoções e sentimentos podem caber em um pedaço de papel vindo de um desconhecido? Qual o valor de receber uma carta, de enviar uma carta? Imensurável. Esta foi a resposta que os "doutores" do projeto Doses de Alegria descobriram no último sábado, ao fazerem a primeira entrega como palhaços carteiros das"Mensagens de Alegria".

A visita dos doutores já costuma ser motivo de encantamento para os 24 residentes da Casa Santa Maria dos Anjos, em Palhoça, mas no último sábado, foi ainda mais especial. Junto com o carinho habitual e a animação, o grupo levou cartas de crianças escritas especialmente para cada um dos velhinhos, entregou em mãos e leu para eles.

Maria conseguiu ler sozinha
Foto: Léo Cardoso / Agencia RBS

As reações diante do gesto tão simples emocionou quem via de fora. Para os idosos, a maior parte com problemas físicos ou mentais, como esquizofrenia, Alzheimer ou demência, receber os envelopes parece ter despertado as melhores memórias, de um tempo em que o afeto de quem estava longe chegava pelo correio para amenizar as saudades. 

Sentada no sofá, Mábile Viscari Demazi, 94 anos, mal contia o riso e a emoção enquanto a doutora Xarope de Morango, Nádia Villani Ruy, lia a cartinha para ela. No final, beijou a foto da menina que quer ser sua amiga, e disse que gostou muito, antes de guardar no bolso bem protegida. 

Enquanto os palhaços iam entregando as primeiras cartas, a curiosidade de quem ainda não havia recebido começava a aguçar. Na hora que recebeu a sua das mãos do Dotormentado dos Teclados, Renato Rech, a senhora Maria Nienkitter, 87 anos, fez o maior esforço para ler por conta própria.

— Não conheço essa criança, mas gostei muito. Consegui ler um pouco, mas depois a vista não deu mais. Eles vão vir aqui? — questionou.

Leonila gostou da carta 
Foto: Léo Cardoso / Agencia RBS

Leonila Matilde Ludwig, 90 anos, recebeu duas cartinhas, e achou as crianças muito bonitas: 

— Eles de certo sabiam que eu era bonita também — falou em meio a uma gargalhada.

A residente Francisca Jacob de Mattos, totalmente lúcida aos 93 anos, mesmo com dificuldades na vista, passa os dias fazendo bordados e adorou receber a carta: 

— Não consigo ler mais por causa da catarata, mas gostei muito que leram para mim. A menina que mandou a carta lembra uma sobrinha minha quando era pequena. Fiquei curiosa para conhecer as crianças, estamos aguardando a visita — disse. 

A previsão é que o encontro entre os idosos e as crianças aconteça em novembro.

Mensagens de Alegria

O projeto Mensagens de Alegria foi desenvolvido por Nádia Villani Ruy, idealizadora do projeto "Doses de Alegria", que transforma voluntários em doutores palhaços, levando música, abraços e carinho em asilos e hospitais da Grande Florianópolis. 

Há cerca de três anos ela teve a ideia, e inicialmente seria realizado de forma online, para que pessoas de todo o Brasil pudessem "adotar" um idoso. Como não houve adesão, o projeto ficou parado por um tempo, até que foi apresentado a uma escola que topou a ideia e no último sábado aconteceu a primeira entrega de cartas:

— Pela reação dos idosos a gente viu o quanto gostaram. A carta remete ao passado, resgata lembranças. Para as crianças também foi maravilhoso, hoje em dia eles nem sabem o que é mandar uma carta, tiveram alguns que pediram para os pais colocarem até o selo — contou.

Emocionada, ela diz que a realização do projeto trouxe uma mistura de emoções:

— A leveza desse dia, a mistura das ações com reações provocaram uma fusão, confusão de sentimentos onde a alegria, carinho, orgulho, gratidão, emoções se misturavam e não se continham no coração explodindo em forma de amor. Por que um gesto tão simples como uma entrega de cartas com mensagens positivas pode provocar tudo isso? 

Francisca se diverte com a visita das "dotoras"
Foto: Léo Cardoso / Agencia RBS

Palhaços foram buscar cartas em escola

Se para os idosos receber as cartas foi emocionante, para os alunos do colégio Estimoarte, na Costeira, escrever também foi motivo de alegria e expectativa. As professoras passaram um vídeo em sala de aula para cerca de 100 crianças de 3º e do 5º ano em que mostrava imagens do projeto Doses de Alegria visitando asilos. Muitos deles não sabiam o que era um lar de idosos, e de maneira didática as professoras explicaram que muitos daquelas pessoas não tinham mais família, sofriam de doenças físicas e mentais, e precisam de carinho e amigos.

Deste modo, foi feita a proposta para que as crianças escrevessem a carta se apresentando, falando um pouco sobre elas e enviassem uma foto. Cada aluno recebeu somente o nome do idoso, o que aguçou ainda mais a curiosidade para saber quem são eles. 

A aluna do 3º ano, Laura Firmino Garcia, 9 anos, recebeu o nome do senhor Zuza. Em sua mensagem, contou que gosta de brincar e também de estudar. No final, disse que espera que a carta seja o início de uma grande amizade.

Já a colega Maria Clara Antunes Campos, 10 anos, aproveitou para perguntar para o seu velhinho o que ele gosta de fazer, contou que tem dois animais de estimação e também toca flauta: 

— Acho que ele deve ser muito legal, estou muito curiosa para conhecer ele, porque eu não tenho nenhum avô vivo — disse a menina.

Laura enviou uma carta para Zuza
Foto: Diorgenes Pandini / Agencia RBS

A professora Simone Zenilda da Silva, do 3º ano, conta que a maior preocupação dos alunos era em como poderiam ajudar os idosos:

— Muitos perguntaram aonde estava a família deles. Agora eles vão escrever todo mês uma carta até o encontro em novembro — explicou. 



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