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quinta-feira, julho 16

Saudável Vaidade

Nem toda vaidade é pecado. Existe um tipo de vaidade que todo mundo deveria ter. Vaidade da boa. Conheci uma pessoa assim.

Era tão vaidosa, que mesmo com idade avançada não saia sem salto nem por decreto. Carregava um batom no soutien, e quando recebia a visita de qualquer pessoa, mesmo de um de seus filhos, corria pro banheiro e dava um retoque no batonzinho. Mantinha o pente, também, sempre à mão (ou melhor, ao peito). Gostava de ter as unhas pintadas – vermelho era a sua cor. Brincos, anéis e colares nunca faltavam – mas isso é coisa da raça (era filha de sírios).

Assim que acordava, dava início a um ritual de beleza. Cuidava, primeiramente, da beleza interior, e fazia suas orações diárias pelos 6 filhos naturais, 2 adotivas, genros, noras, 21 netos, depois parentes, amigos em dificuldade, e casos que ela ouvia falar. Um terço pra cada um. Uma novena inteirinha, para casos especiais - e muita devoção.

Depois, cuidava da beleza exterior. Banho, cremes, um perfuminho. Batom desde cedinho. Os brincos e anéis dormiam com ela - e, aparentemente, também os saltos altos... Uma ajeitadinha no cabelo e... ah, sim, o toque final: um sorriso. Pronto, agora sim!

O sorriso sempre presente, e sempre muito cordial, completava a aparência bem cuidada e – acreditem – sem exageros. Ao contrário do que pode parecer, era uma mulher muito simples, sem qualquer afetação.

Sua inegável elegância não estava na etiqueta das roupas que usava, mas na etiqueta pessoal; não me lembro de, uma única vez sequer, ouvi-la queixar-se da vida – e nem dos outros.

Boa aparência, gentileza, asseio verbal, sorriso, orações e muita fé. Disso era constituída a saudável vaidade desta mulher que dizia que não era certo submeter os outros à desagradável companhia de uma pessoa de cara feia, emburrada e de mal humor. Achava que ninguém tinha que vê-la mal cuidada, nem deprimida, nem triste.

E foi dessa maneira, de bem com o mundo, que atravessou a viuvez aos 42 anos de idade com 6 filhos naturais, seguidos de duas meninas adotivas, numa época em que as mulheres não tinham nem estudo, nem profissão. Com a mesma elegância passou de madame a costureira, para sustentar os filhos. Com o batonzinho e o sorriso sempre a postos, a dona de casa, mãe, cozinheira e agora, costureira, ainda guardava as sobras - de roupa e de tempo - para costurar para a sua tão amada Igreja.

Os momentos de aflição e tristeza eram guardados para conversas ao pé do ouvido com seu confidente e amigo de todas as horas: Deus. Além Dele, ninguém mais tinha que provar suas angústias, nem beber do mesmo fel. A fé Nele lhe bastava; quem tem fé, dizia, sabe esperar sem desesperar.

A parceria deu certo. Ele esteve a seu lado durante toda a jornada; amparou-a, deu-lhe coragem e confiança inabaláveis. Foi Dele que veio essa sua forma tão positiva de ver a vida. Ela retribuiu com gentilezas e sorrisos, aparentando e dando aos outros o seu melhor, todos os dias de sua vida.

Convivi com esta Força chamada Nasha Daia Bittar (pronuncia-se Naza) por mais de 40 anos; foi minha avó paterna, de quem só trago boas lembranças. Nunca uma ofensa, nunca uma agressão, nem uma queixa sequer. Nunca o desleixo. Nunca o cansaço, nunca a preguiça, jamais a entrega.

Com ela, aprendi o Evangelho. Mas não na teoria; nunca lemos ou estudamos juntas. Aprendi na prática, observando-a e ouvindo seus conselhos:

“Ficar de mal com o mundo, com cara amarrada, é coisa de quem não tem fé”. (“Às aves do céu, Deus dá o alimento”).

“Quando alguém me ofende, eu imediatamente elevo uma prece a Deus, pedindo perdão pela ofensa que estão me fazendo”.(“Perdoai-os Senhor, eles não sabem o que dizem”).

“Eu não me meto em briga de casal. Mas, se tiver que dar palpite, vou sempre estar do lado das noras e dos genros. Porque o amor dos filhos, eu já tenho...” (Essa aí eu não sei de onde ela tirou...)

Mas o que era contagiante nela, era sua forma positiva de enxergar a vida. Pra tudo o que lhe acontecia, ela tinha um olhar um tanto quanto... “diferenciado”, digamos.

“E aí vó, como é que foi lá no médico?” perguntei um dia, para ouvir a seguinte lição de vida:

“Ah, ele ficou maravilhado comigo! Disse que eu estou muito bem pra minha idade. Quase não acreditou que já passei dos 80! Ficou encantado, mesmo. Disse que eu sou muito disposta, muito alegre, muito ágil, que tenho boa memória, que pareço mais nova e tenho uma saúde invejável. Não achou nem um defeitinho.” E, ajeitando o cabelinho, completou:“E olha, ele ficou com vergonha de dizer, mas eu sei que também me achou muuuito bonita!”

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