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segunda-feira, agosto 9

VELHICE

                   Daisaku Ikeda


VELHICE


Quando eu era mais jovem, pensava que não tinha nenhuma ligação com os mais velhos. Da mesma forma, acredito que muitos jovens acham difícil acreditar que algum dia, se tornarão velhos. Entretanto, a realidade é que agora eu estou entre os "velhos" e não posso me mover com a mesma rapidez e facilidade de antes.

Meu professor costumava dizer que os últimos anos de nossas vidas são os mais importantes. Se os últimos anos de vida são felizes, então nossa existência foi feliz. A velhice é uma época de realização espiritual e encerramento. Quando as pessoas não estão focalizadas na obtenção de ascensão social, dinheiro ou acúmulo de bens materiais, elas se tornam capazes de observar seu interior minuciosamente, assim como a realidade da vida e da morte, sem a interferência de ítens superficiais.
 
Quando se alcança a velhice, nos tornamos cientes - dentro do coração – se tivemos uma existência plena de satisfações ou não. Uma percepção que ninguém poderá concluir ou decidir em nosso lugar. Este é o nosso maior desafio que cada um de nós irá defrontar – se no final de nossa existência poderemos honestamente dizer que nossa vida foi bem aproveitada.

Eu acredito que a nossa capacidade em viver de forma satisfatória até o final de nossas existência, varia consideravelmente, de acordo com a nossa visão sobre a morte. Infelizmente, muitos anciãos se sentem temerosos e ansiosos em relação a morte. Mas, como budista, eu acho prático comparar o ciclo a vida e da morte ao nosso ritmo do despertar e dormir. Assim como ansiamos por um sono repousante após um dia cheio de atividades, a morte pode ser vista como um agradável período de descanso e renovação de energias para que se abra um novo ciclo de vida ativa. 

E da mesma forma que desfrutamos o melhor dos sonos, após um dia extenuante e cheio de esforços, um calma e tranquila morte irá acompanhar um vida cheia de realizações e sem arrependimentos. É comum que as árvores dêem frutos na época da colheita. Semelhantemente, a velhice é o período de resultados. Quando somos cheios de experiências, munidos de um caráter polido até a sua essência e de um coração gentil e puro - a velhice se torna a época mais valiosa da vida humana. A perda de certas capacidades com a chegada da velhice não é algo para se envergonhar. Ao invés disto, as diversas enfermidades provindas com a idade devem ser observadas como faixas de honra e devem ser vestidas com orgulho. 

Há um ditado que diz: "Para um tolo, a velhice é um inverno amargo; para um sábio, é uma época dourada". Tudo depende da nossa própria atitude e do como encaramos a vida. A velhice é um período de declínio que termina com a morte ou uma época de oportunidades para se alcançar seus ideais e encerrar a existência coroada de satisfação ? A velhice poderá variar drasticamente de acordo com a visão de cada indivíduo.

Recentemente, eu recebi uma carta de uma mulher de Quioto, que está com 67 anos. Seu conselho consistia em: "Nós devemos banir qualquer expressão de derrota alojada em nossas mentes – palavras ou pensamentos como: ‘Eu não posso fazer isto’,‘Eu sou muito velho’, ‘Não há motivo em tentar’, ‘É muito difícil’ ou ‘Eu não tenho condições’. Ao invés nós devemos dizer para si: ‘Eu ainda não desisti’, ‘Eu ainda sou jovem’, ‘Eu ainda posso fazer isto’, ‘Eu ainda estou cheio de energia’. Assim, ao mudar nossa abordagem para si e para os outros, seremos capazes de mudar nosso comportamento padrão para uma direção positiva".

Pesquisas mostram que quando as pessoas fazem uso contínuo da sua memória e concentração, estas habilidades não se enfraquecem. Manter atitudes positivas - como procurar novos passatempos, conquistar novos amigos ou um interesse constante em prol de outros – ajudam no retardo do declínio físico e mental. Embora nossos corpos envelheçam, se mantivermos uma atitude positiva e ativa, nossas mentes e corações irão permanecer jovens por toda a nossa vida. 

Cito o poeta Samuel Ullman: "A juventude não é um período da vida. É um estado mental; não significa ter bochechas rosadas, lábios vermelhos e articulações ágeis. É uma questão de desejo, da qualidade na imaginação, no vigor das emoções. É o frescor de uma profunda primavera da vida". É vital olharmos para o futuro, ter metas e aspirações – tal perspectiva é crucial para tornar os últimos anos de nossas vidas repleto de alegrias e realizações.

Um mulher cuja atitude na juventude me impressionou profundamente foi da pintora norte-americana conhecida como a "Avó Moses". Ela produziu cerca de 1.500 pinturas até morrer aos 101 anos de idade. Além do mais, ele somente começou a pintar após os 75 anos. Ela nunca fez um curso de pintura e até então, era somente uma simples esposa de fazendeiro. 

Ela enfrentou diversas dificuldades em sua vida. Dos seus 10 filhos, cinco morreram enquanto jovens e seu marido faleceu quando ela tinha 66 anos. Ela descreve que embora tenha sofrido pela dor e intempéries, ela se recusou ser levada pelo sofrimento e sempre mirou para frente. 

Não importando as circunstâncias, a Avó Moses se esforçou para que cada dia e cada momento brilhasse com o seu sorriso. Após seus filhos sairem de casa e seu marido falecer, ela recusou dar espaço para a solidão ou desistir de viver. Ela decidiu enfrentar um novo desafio na pintura e seus últimos dias de vida foram coroados com um belo pôr-do-sol. Ela escreveu: "Eu olho para a minha vida como um bom dia de trabalho. Tudo foi feito e eu me senti satisfeita. Eu fiquei feliz e contente. Tudo estava de acordo e fiz o melhor do que a vida me ofereceu. A vida é o que nós fazemos, sempre foi e sempre será."

Há uma grande diferença entre simplesmente viver uma longa vida e viver uma existência cheia de alegrias e realizações. O que é realmente importante é o quanto de textura e cor podemos adicionar em nossas vidas durante nossa estada na Terra – embora este período possa ser longo. A qualidade é o que importa, não a quantidade. 


Autor do texto:Daisaku Ikeda


Daisaku Ikeda é pacifista, escritor, filósofo, fotógrafo e poeta.  Também conhecido como "Embaixador da Paz", é presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), uma ONG, com base budista,   filiada às Nações Unidas, que atua nas áreas da cultura, educação, paz, meio-ambiente, desarmamento nuclear e apoio a refugiados de guerra.


bjs,soninha

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